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ÚTERO PUNK!








Útero Punk é uma banda de punk rock de São Paulo, mais precisamente da Vila Brasilândia, formada por Tati Góis - vocalista e líder da banda, Paulo Apu - Baterista, Anderson Alves - Baixista, Daniel Alves - Guitarrista e André Antunes Produtor do Grupo. A banda foca suas músicas na realidade da causa feminista cantando e gritando em suas letras a realidade de mulheres de classes sociais menos favorecidas, além de unir a cena musical feminina, trazendo uma discussão sobre a garantia dos direitos das mulheres e difusão do rock dos subúrbios, a música da periferia, e o One traz hoje uma banda que além de multiplicar através da música os direitos femininos, mostrando a realidade de muitas mães e mulheres de família, jovens oprimidas que sofreram com a violência, fala da realidade da mulher negra da periferia, mostrando que o punk rock pode ser bem mais que música com 3 acordes e que pode transformar e dar voz para aquelas que tão pouco espaço sempre tiveram em nossa sociedade, com a palavra Tati Góis, vocalista da Útero Punk. One Degrau: Primeiramente é um prazer poder contar com a participação de vocês, e já pergunto qual a maior dificuldade de trazer uma música com uma temática voltada exatamente para mulheres num universo tão restrito?

Tati Góis: Nós que agradecemos a oportunidade de poder falar do nosso trabalho. As dificuldades que passamos hoje são bem menores que a 5 ou 6 anos atrás, mas shows são bem raros pouca gente curte ver uma negra no palco ainda feminista hahaha mas a Útero já conquistou um espaço bacana na cena apesar das dificuldades (racismo e preconceito).


OD: Já que existem as dificuldades, qual forma que vocês acharam para que sejam vencidas tais barreiras?

TG: A forma que eu aprendi para driblar dificuldades eu é ter propriedade no que eu falo, não importa se o mundo não vai concordar comigo, eu tenho uma idéia, uma causa, uma luta e eu vou continuar de pé, ninguém vai me silenciar. Uma mulher empoderada assusta os machistas geralmente ou enfurece principalmente os babacas que jogam Yu Gi Oh! e ativam a carta “E a pia já lavou” hahaha.


OD: Sei que a banda sempre está envolvida em festivais exclusivos para bandas femininas, por que de certa forma eu sempre fico na esperança de encontrar mais e mais bandas que unam a cena feminina, então qual é a opinião sobre a cena que encontramos atualmente? Está mais ou menos favorecida e é fácil encontrar bandas engajadas? Ou ainda tem pouca força o movimento?

TG: A cena feminista que eu conheço ela tem pouquíssimas bandas formadas apenas por mulheres e isso se justifica através do machismo que a mulher foi condicionada pelo patriarcado que a impede que tenha contato com instrumentos musical e a produção cultural, isso acaba acontecendo muito mais tarde, as bandas que são formadas apenas por mulheres muitas vezes não são feministas e as que são feministas não me representam e não representam a mulher negra de periferia, há muito tempo se fala de feminismo e se deixa de lado a mulher negra como se isso não tivesse importância, mas ela tem, e esta é a minha luta, eu quero espaço na cena feminista, já aconteceu de minas pretas terem que fazer um barraco virtual para que a Útero pudesse tocar em um evento feminista. O feminismo branco não nos representa, então precisamos ocupar espaços e empoderar dar voz a mina preta da favela, quando eu comecei a falar isso de maneira aberta sem temer críticas comecei a ser atacada e hoje não me importo mais com estes ataques porque nos shows da Útero está enchendo de MINA PRETA, está enchendo as redes sócias de MINAS USANDO TURBANTE e lutando, defendendo nossa causa e muitas resgatando sua africanidade através da transição capilar outras no visual, saindo daquela modinha roqueira branca e indo pro som de cabeça erguida valorizando a estética negra esta é nossa meta empoderar cada vez mais minas e enegrecer o feminismo sim!

OD: Alguma vez por conta de explorar essa temática, vocês sofreram ataques e o que mais enche a paciência quando as pessoas (leiam homens machistas haha) querem colocar sua verdade como a única?

TG: Olha, sempre tem uns machistas imbecis de plantão, tem muita mina que ainda não se libertou e quer criticar fala babaquice para mim na intenção de “parecer libertária” acaba reproduzindo machismo e racismo principalmente. Já aconteceu de muitas pessoas quererem me agredir, dentro do próprio movimento, estas pessoas não entendem o que é o feminismo, o que é a luta de raça e muitas vezes me acusam de separatismo de radicalismo até de “racismo reverso” hahaha. Muitos “punks” gritam serem libertário feministas, gritam por igualdade e quando eu, mulher negra entro pra defender minha causa há quem diga que “não precisa disso” que “é exagero” que tem que lutar por todos e não só pelos pretos. Um exemplo disso, eu sou uma das poucas mulheres negras, líder de bandas punks, é só olhar em volta que vocês vão perceber que a maioria no rolê é gente branca. Teve um show que a ÚTERO foi tocar e eu era a ÚNICA MULHER PRETA do lugar, aí vem gente me dizer que eu estou exagerando que não é bem assim e blá blá blá... Eu bato de frente eu reivindico piso pé e não vou concordar com opressor jamais, quem pode falar da luta da mulher negra é a mulher negra e mais ninguém, ponto final.

Nos nossos shows, nós pedimos que os homens poguem com uma certa distância do palco para que as minas possam vir para frente e pogar sem medo, de maneira mais livre, aí os caras xingam, gritam e batem o pé, gritando direitos iguais e que punk é união, mas os caras querem ocupar mais espaço do que eles realmente precisam. Uma vez, teve mina gritando não, deixa os caras pogar, punk é união, aqui não separamos ninguém. Eu concordo, mas os caras têm que entender que muitas minas têm receio de abuso. Todos sabem que no pogo, tem sempre um que quer pegar nos seios, passar a mão, então por isso no nosso show, damos essa abertura para as minas extravasarem, o que muitas vezes elas não se sentem confortáveis de fazer perto de homens e eles não querem entender isso. Tem uns manos que chegam a dizer que meu trabalho é contraditório porque tem homem na banda, os meninos da banda, o Daniel Alves - Guitarrista, o Paulo Apu – Baterista, o Anderson Alves – Baixista e o André Antunes – Produtor, são músicos, não são feministas e eles sabem que não é local de fala deles, eles estão lá para fortalecer e para me apoiar. Nunca um componente da ÚTERO que seja do sexo masculino, deu entrevista a qualquer veículo de comunicação para falar de feminismo, os meninos têm esta consciência de que não tem propriedade para tratar do assunto, pois não são mulheres, mas sabem tocar instrumentos musicais e podem SIM apoiar sem roubar protagonismo. É difícil isso, é sério já fomos muito atacados por ai.


OD: Quais, as principais influências, não musicais e sim pessoais que inspiraram a vocalista Tati e a Útero Punk a lutar pela causa feminina?

TG: Minha avó Carmosina Maria de Góis, retirante que ficou viúva muito cedo tendo que criar 6 filhas sozinha em São Paulo, que não abaixou a cabeça para homem nenhum mandar nela nem nas filhas dela. Minha avó Ana Luci Leitão que apesar de eu não tê-la conhecido sua história sempre será lembrada em minhas músicas, ela sempre foi guerreira, sofreu muito nas mãos do meu avô, mas passou por tudo com garra defendeu seus filhos morreu vítima de feminicídio, cometido pelo seu companheiro. Estas são as que fazem parte da minha vida eu poderia mencionar muitos grandes nomes de feministas e líderes negras, mas gostaria de compartilhar com vocês os nomes e um pouco da vida delas.


OD: Quais os planos da banda? Podemos contar com novos sons e novos trabalhos para podermos divulgar aqui no One e claro curtirmos o som?

TG: Acabamos de gravar uma nova música e iremos lançar juntamente a um clipe em novembro, a galera pode aguardar que vem música pra empoderar as pretas por aí e já estou com planos de fazer um circuito para lançar um novo projeto daqui algumas poucas semanas até porque o ano já está acabando.


OD: Por fim, agradeço pela participação, é um grande prazer poder entrevistar uma banda cheia de atitude (e ótimas intenções e lutas). Qual som da banda, vocês recomendam para que os leitores do One saibam um pouco mais sobre os ideais da banda?

TG: Vou deixar aqui dois sons complementares em minha opinião para que fique perceptível o resgate das minhas raízes tanto em sonoridade quanto em estética mesmo.

Um é do nosso projeto Útero Punk “Mulheres em Perigo” que foi uma coletânea que lançamos em 2014 com a participação de outras 5 bandas de vocal feminino.

Olha vamos indicar nossa música que ainda não foi gravada, mas tem um vídeo no youtube da primeira vez que tocamos esta música e muitas minas se emocionaram com a letra. ‘’Caroline’’ é uma música que eu fiz sobre a transição capilar da minha priminha Carol, mulher negra feminista e também falo um pouco de mim, pois fiz a música na época da minha transição capilar também.


Segue também os links para que a galera encontre a banda na internet.

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Quero indicar alguns grupos também:

Ratas Rabiosas, uma banda feminista que já teve um projeto com a Útero em 2014; o som é visceral a letra é uma pedrada feminista muito, muito boa mesmo.


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