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FALA UNDERGROUND - TATI GÓIS



É com muito orgulho que nós do One Degrau estreamos esse espaço no site dedicado a entrevistas com figuras ativas no meio do underground nacional, "FALA UNDERGROUND" tem como primeira entrevistada Tati Góis, a Tati, vocalista da Útero Punk, banda de Brasilândia-SP e que está lançando seu primeiro trabalho solo entitulado "Negra Favelada"!

Confiram...


One Degrau: Boa noite Tati, seja bem vinda novamente ao One Degrau! Pra começarmos fale um pouco sobre a Útero Punk, a banda acabou mesmo ou está em "stand-by"? Tati: Primeiramente quero agradecer o convite e o espaço, estar aqui mais uma vez podendo divulgar meu trabalho. Bom, a Útero Punk ela não acabou e nunca vai acabar, acontece que eu sou a Útero Punk, afinal eu fundei a banda e sou remanente. Estou com carreira solo, mas com a participação de quase todos os ex integrantes da banda. O: O que te levou a se aventurar em carreira solo e que estilo musical os ouvintes vão encontrar nesse seu primeiro CD solo, "Negra Favelada"? T: Por incrível que possa parecer os maiores incentivadores da minha carreira solo foram os integrantes da Útero Punk que até se propuseram a gravar comigo e tudo mais, já existia um desejo de me desvincular do nome “punk”, dentro de uma cena muito quadradinha e fechada, ai eu decidia ano passado gravar algumas músicas que já vinha crescendo no meu coração. Quem escutar o CD vai encontrar grandes mudanças e uma evolução musical da minha parte, principalmente na minha nova música “Mãe Preta” de resto aquele rock com, choro e samba de sempre e duas musiquinhas pesadas, porque também eu não sou de ferro (risos)

O: Quais seriam suas influências musicais, desde os trabalhos com a Útero Punk até o atual projeto solo? T: Olha eu sempre me inspirei muito na Elis Regina, Elsa Soares eu sempre ouvi muito Rock, Punk Rock, mas acho que a minha maior influência não é sonora é a rua é a minha vida que são um barulho só, depois que a letra está pronta eu só coloco “sabor”. Eu vou tocando até conseguir um som que me faça dançar ou chorar e quando isso acontece esta eleita a sonoridade da música seja ela qual for rock ou baião o que me tirar da linha é o que vai ficar, vocês poderão ver isso no making off que fizemos.

O: Você sempre foi conhecida por ser defensora ferrenha das causas feministas e anti-racistas, nesse novo trabalho solo as letras ainda tem aquele teor de "por o dedo na ferida" ou tomarão outros rumos? T: Mais do que nunca este trabalho vai além de por o dedo na ferida, talvez seja a ferida que nossa sociedade tem que não cura nunca. Neste CD eu venho falar da evasão escolar da mulher negra, de preconceito e racismo mascarado de “opiniões”, do racismo velado, debato o próprio feminismo e abordo de maneira contundente o genocídio da juventude negra, este CD pode não ter a sonoridade muito pesada, mas as letras, estas são tudo o que sempre quis dizer.

O: Você em outras ocasiões, disse ter casos de racismo no meio do Movimento Punk, situação que é no mínimo ridícula se tratando de um movimento que prega a liberdade e igualdade, isso te atingiu de alguma forma? Pode se dizer que foi um dos motivos que te levaram a dar um tempo com a Útero Punk? T: Sim, existe racismo na cena Punk assim como em diversas cenas e sim já sofri racismo, ameaça e uma certa perseguição dentro da cena de maneira velada. Sim dei um “Tempo” com a Útero Punk, na verdade ninguém chamava a gente para tocar mais, só algumas feministas e alguns amigos. O que houve foi uma parada para preservar minha sanidade mental. Teve um evento em que a Útero tocou e um “punk” depois que o som acabou veio me cobrar por explicações, pois na opinião dele eu supostamente falava “mal de brancos” me xingou de racista reversa, hipócrita, que eu não deveria nem estar na cena punk e que eu era separatista, ele ate quis me agredir fisicamente só porque eu toquei uma música do Gilberto Gil – “Sarara Miolo” que diz assim: “Sara, sara, sara cura /Dessa doença de branco /De querer cabelo liso /Já tendo cabelo louro”, depois deste dia algumas meninas punk param de falar comigo. Isso é ser punk? Isso é sororidade que as feministas vivem cantando aos quatro ventos? Depois disso, me enfiei de cabeça no meu trampo solo percebi que a letra da música do Gilberto Gil tinha incomodado o “punk” então comecei a escrever músicas nesta pegada apontando mesmo o dedo na cara, só escuta quem aguenta e só se incomoda quem é racista, porque se sente atingindo. Esta ideia que punk fala de tudo, cospe e fala mesmo e prega liberdade só é verdade quando você é branco. As pessoas te acham super rebelde revolucionário punk bagarai, agora quando você é mulher e negra e vai falar de racismo inclui suas vivências no seu discurso...eles querem resumir sua luta ao discurso de que “somos todos iguais” para não serem obrigados a debater o assunto com profundidade e reconhecer privilégios. O punk debatendo racismo se limita a este discurso: Somos todos iguais, cidadão do mundo libertários, somos uma única raça, a raça humana. Aí eu venho falar de genocídio da população negra e eles dizem “brancos também morrem”. Sim brancos morrem, mas não na mesma proporção que os jovens negros, ninguém está dizendo que brancos são imortais (risos)... O punk não aceita estes recortes e muitas vezes até o feminismo não reconhece estas demandas.


O: Voltando a falar de "Negra Favelada", como foram as gravações do CD, quem foram os músicos que te acompanharam nas gravações? T: Mas este CD deu um trabalhão (risos)!!! Gravamos na Fábrica de Cultura da Vila Brasilândia com o David Maderit um cara super forte na articulação aqui na região nossa ele fez milagres ele comprou mesmo meu trampo e nos tornamos amigos. Gravaram comigo: Luiz Carlos – Guitarra – ex Útero Punk atualmente no Projeto solo Daniel Alves Matos - Guitarra e Baixo - ex Útero Punk Anderson Alves dos Santos – Baixo - ex Útero Punk Paulo Soares – Bateria - ex Útero Punk Pedro Akimoto – Bateria – Projeto solo Andre Antunes - Backing vocal


O: Você tem planos de fazer apresentações ao vivo com esse repertório? Tem alguma música nele pela qual você tem um carinho especial? T: Quero fazer alguns shows, mas é complicado não tenho banda fixa. Em relação a uma música especial, eu tenho sim “Mãe Preta” ela se chamava “Carta ao Meu Futuro Filho” eu escrevi pensando em como seria a minha dor se eu perdesse um filho nas mão da PM, e eu não tinha um filho na época em que escrevi o esboço da música, dois anos depois meu filho Cazuza nasceu, ai sim eu consegui colocar o real sentimento que a música pedia e desci gravar ela neste primeiro trabalho por estar totalmente pronta para ser ouvida por todas as mãe que criam seus filhos dentro da periferia e carregam este mesmo medo que eu tenho de perder meu filho para a injustiça.

O: Muito obrigado pela entrevista, desejamos tudo de bom sempre pra você! Fique à vontade para deixar um recado aos admiradores do seu trabalho e aos leitores do One Degrau. T: Obrigada vocês do One Degrau sempre fortalecendo a cena independente. Bom vou deixar aqui link para comprar meu CD Solo: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdjzb-ybjKDwcaLg7GMWeuJcKVkEUR1VMFb-Stdn5ozT3f8Tg/viewform?usp=sf_link Entraremos em contato para finalizar a venda. E aguardem No final do mês de outubro o lançamento do nosso documentário “Periféricas” com participação de artistas negras fazedoras de cultura das periferias de São Paulo. Gostaria também de deixar aqui uma frase minha que espero que vire uma música:

"ESTOU AQUI PARA SOMAR, NÃO ESTOU AQUI PARA SEPARAR, MAS SE VOCÊ NÃO QUER ME OUVIR FICA IMPOSSÍVEL DIALOGAR!"

Assistam aqui o vídeo da música "Mãe Preta", faixa do CD "Negra Favelada", primeiro tarabalho solo da Tati Góis:


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